22 dez 2017 - Para a Missa da Noite do Natal do Senhor, a primeira das três Missas desta solenidade, a Igreja nos propõe o belíssimo texto da Kalenda, o Anúncio Natalino. A Kalenda, cujo texto encontra-se no Martirológio Romano, é uma recapitulação da história do povo de Israel, lida a partir da Encarnação de Jesus Cristo, vista como o centro da história.

 

Este hino recebe este nome devido a sua primeira frase no texto original em latim: “Octavo Kalendas Ianuarii”. Na tradição romana, o primeiro dia do mês era chamado de “kalendas” do mês. Assim, os dias próximos às kalendas eram contados em referência a elas. Por isso o dia 25 de dezembro é chamado assim: o oitavo dia antes das kalendas de janeiro.

No texto latino, segue-se uma referência à lua. Por exemplo, neste ano de 2017: “luna sétima” (lua sétima). Isto é uma referência ao calendário judaico, que conta os dias do mês a partir do primeiro dia da lua nova. Por isso, neste ano o dia 25 de dezembro é o 7º do mês lunar judaico, isto é, o 7º dia desde que iniciou-se a lua nova. No próximo ano (2018) será a 18ª (Décima oitava). 

O texto em português, que se encontra no Diretório Litúrgico da CNBB, omitiu as primeiras duas frases, iniciando diretamente com a menção dos grandes acontecimentos da história de Israel em sua relação com o nascimento de Cristo segundo a carne: criação, dilúvio, nascimento de Abraão, êxodo, etc.

Embora o referido Diretório Litúrgico sugira cantar a Kalenda antes do Glória da Missa da Noite, é mais adequado entoá-la antes da Missa, servindo de “transição” entre as expectativas do Antigo Testamento pela vinda do Salvador, celebradas durante o Advento, e o mistério da sua Encarnação, celebrado nesta noite santa.

Lembramos também que o texto da Kalenda não faz parte do rito da Missa, sendo portanto mais adequado como preparação para esta. Tal era a prática no Vaticano até o ano passado, quando este rito sofreu uma pequena alteração (mantida neste ano): a Kalenda é entoada logo após a procissão de entrada, quando o Papa chega diante do altar. Após seu canto, o Papa dirige-se ao altar, o venera e incensa.

Esta forma, porém, exige que se preparem dois cantos de entrada (um antes da Kalenda e um após esta, para a incensação do altar), ou que se interrompa o canto e se retome-o após a Kalenda. Sugerimos, portanto, que se mantenha o costume de cantá-la antes da Missa.

Outra prática ligada ao canto da Kalenda é colocar a imagem do Menino Jesus diante do altar, coberta com um véu. Após o canto, um diácono ou outro ministro descobre a imagem (ou, caso adote-se a atual prática do Vaticano, o próprio sacerdote a descobre).

A Kalenda pode ser entoada por um cantor ou leitor leigo, por um diácono ou mesmo pelo próprio sacerdote. No Vaticano, é cantada sempre por um dos membros do coro.

Publicamos abaixo o texto deste belíssimo hino em português (tradução do Diretório Litúrgico da CNBB) e a versão em latim:

 

Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo
e fez o homem à sua imagem;
séculos depois de haver cessado o dilúvio,
quando o Altíssimo fez resplandecer o arco-íris,
sinal de aliança e de paz;
vinte e um séculos depois do nascimento de Abraão, nosso pai;
treze séculos depois da saída de Israel do Egito sob a guia de Moisés;
cerca de mil anos depois da unção de Davi como rei de Israel;
na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel;
na nonagésima quarta Olimpíada de Atenas;
no ano setecentos e cinquenta e dois da fundação de Roma;
no ano quinhentos e trinta e oito do edito de Ciro autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém;
no quadragésimo segundo ano do Império de César Otaviano Augusto,
enquanto reinava a paz sobre a terra, na sexta idade do mundo.
Jesus Cristo, Deus Eterno e Filho do Eterno Pai,
querendo santificar o mundo com a sua vinda,
foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem;
transcorridos nove meses nasceu da Virgem Maria em Belém de Judá.
Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana.
Venham, adoremos o Salvador.
Ele é o Emanuel, Deus Conosco.


Innumeris transactis sæculis a creatione mundi,
Quando in principio Deus creavit cælum et terram et hominem formavit ad imaginem suam;
permultis etiam sæculis, ex quo post diluvium Altissimus in nubibus arcum posuerat, signum foederis et pacis;
a migratione Abrahæ, patris nostri in fide, de Ur Chaldæorum sæculo vigesimo primo;
ab egressu populi Israel de Ægypto, Moyse duce, sæculo decimo tertio;
ab unctione David in regem, anno circiter milesimo;
hebdomada sexagesima quinta, juxta Danielis prophetiam;
Olympiade centesima nonagesima quarta;
ab Urbe condita anno septingentesimo quinquagesimo secundo;
anno imperii Caesaris Octaviani Augusti quadragesimo secundo;
toto Orbe in pace composito, Iesus Christus, æternus Deus æternique Patris Filius, mundum volens adventu suo piissimo consecrare, de Spiritu Sancto conceptus, novemque post conceptionem decursis mensibus, in Bethlehem Iudae nascitur ex Maria Virgine factus homo:
Nativitas Domini Nostri Iesu Christi secundum carnem.

 

Confira o video do canto da Kalenda: https://youtu.be/lDLf1TKn3rQ 

Fonte: pilulasliturgicas.blogspot.com.br


Está previsto no Diretório da Liturgia Ano A São Mateus, o Anúncio do Natal, a ser proclamado na primeira missa (da noite de Natal) após o sinal da cruz e a saudação presidencial, antes da entoação do Glória. Confira no Diretório de Liturgia, pg. 40