22 nov 2017 - As dinâmicas que configuram a interioridade de cada pessoa, fundamentais para a vivência transformadora da fé, dependem de dois âmbitos muito especiais: a família e a escola, determinantes para a formação humana.

 

Por isso mesmo, uma sociedade que busca novas configurações e funcionamentos institucionais, deve investir fortemente na família e na escola. Esse investimento deve considerar uma definição de escola que não se restrinja ao ensino formal, o que significa contemplar as escolas formais e as muitas outras “escolas da vida”, lugares onde as pessoas também desenvolvem modos de ser e de agir.

É preciso ainda conceituar família de um modo mais amplo. Obviamente, preservar a família dentro do sentido incontestável do matrimônio, mas também, considerar grupos sociais que se formam a partir de propósitos comuns – desde os que torcem apaixonadamente por um time de futebol aos que se reúnem em torno de projetos sociais e culturais, por exemplo.

Sentido genuíno e essencial

A família e a escola pensadas no seu sentido genuíno e essencial, e também, de forma mais abrangente, merecem atenção especial. Somente assim, podem ser alicerçadas as urgentes mudanças na sociedade brasileira, fazendo surgir uma nova cultura de vida e da paz.

Essa cultura pressupõe o irrestrito respeito ao bem comum e a justiça e isso depende das transformações no interior de cada pessoa, sendo que essas refletirão em suas escolhas, nessas mudanças é preciso que o amor seja vetor de desenvolvimento. Cultivam-se, assim, sentimentos humanitários e espirituais, que comprometem consciências e corações com o respeito ao outro, que é irmão.

Por tudo isso, reconhecendo a importância de transformações nos funcionamentos governamentais e de diferentes segmentos da sociedade, é fundamental reconhecer esta urgência: dedicar atenção especial à família e à escola. Vale então, considerar analiticamente o que está acontecendo no contexto atual da sociedade contemporânea: atos de violência como o de um jovem que atirou contra colegas em uma escola ou o desatino de atear fogo em si e nos outros. E ainda, o domínio ilegal de territórios e seus habitantes motivado por propósitos que dizimam vidas. Tão destrutivamente forte, quanto esses males todos, são as práticas de corrupção em pequena e larga escala.

O melhor modelo para a família e a escola

A vitória sobre o que ameaça a vida só será possível se as famílias e as escolas forem cuidadas, urgentemente, de um modo melhor. Pois, nas famílias e nas escolas é que podem ser barradas as delinquências que geram graves danos à cultura e a diferentes áreas, prejudicando a humanidade, inclusive, no desenvolvimento econômico. O caminho é investir para que se aprenda com a família e na escola, o exercício da solidariedade e da bondade.

A família e a escola despertam sentimentos que permitem a compreensão humana sobre o que é viver. Edificam com envergadura o caráter de cada pessoa, que fica livre de graves quadros patológicos, como por exemplo, a perda do apreço pela própria vida, o hábito de guardar e alimentar rancores, ressentimentos, ciúmes e disputas.

Sem o adequado investimento na família e na escola, a sociedade permanecerá a conviver com o medo e a desconfiança e, ainda, com o egoísmo que se manifesta na defesa mesquinha dos próprios interesses, sempre prejudicando o bem comum. Há muito que modificar, quando se consideram os hábitos e práticas aprendidos e cultivados na família e na escola. É preciso coragem, humildade, disponibilidade para ouvir, seriedade e dedicação na tarefa de compreender melhor e reconfigurar as práticas cotidianas.

Diferentes complexidades surgem como desafios para o mundo atual, uma delas são as novas tecnologias, que em algumas situações comprometem laços familiares e a harmonia entre as pessoas. Não menos desafiador é o contexto urbano, tão ferido com a falta de civilidade e respeito. Essas realidades e tantas outras que precisam ser mudadas, requerem dinâmicas com força para conduzir a sociedade no caminho do bem e da verdade, e os passos para trilhar esse trajeto são aprendidos na família e na escola.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

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