12 MAIO 2025
ANIMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA | INSTITUTO DOM LADISLAU BIERNASKI
Encontro mobilizou catequistas e aprofundou os fundamentos de um projeto estruturante de inclusão na catequese.
No sábado, 10 de maio de 2025, no Seminário Maria Mae da Igreja, a Comissão Diocesana da Animação Bíblico-Catequética, em parceria com o Instituto Dom Ladislau Biernaski e o Instituto Ombro Amigo, promoveu a retomada dos encontros formativos da Catequese Inclusiva.
Com a presença de 82 catequistas, representantes de diversas paróquias da Diocese de São José dos Pinhais, o evento marcou um passo significativo na construção coletiva de um projeto pastoral inovador e comprometido com a inclusão das pessoas com deficiência no centro da vida catequética.
Sob o tema "No meio da comunidade: a pessoa com deficiência na centralidade da catequese" e iluminado pelo lema bíblico “Levanta-te e fica aqui no meio” (Mc 3,3), o encontro foi marcado por uma profunda espiritualidade, formação qualificada, dinâmicas de escuta e discernimento, além da organização dos próximos passos desta caminhada sinodal e transformadora.
Antecedentes
A reflexão sobre a catequese inclusiva na Diocese de São José dos Pinhais teve início em 2018, com encontros formativos baseados em documentos da Igreja e voltados à inclusão de pessoas com deficiência. Em 2019, novos encontros ampliaram esse caminho, mas a pandemia interrompeu temporariamente o processo. Na retomada, surgiu a necessidade de aprofundar a fundamentação técnica, incorporando saberes interdisciplinares. Assim, em março, consolidou-se a parceria com o Instituto Ombro Amigo, fortalecendo o projeto com a colaboração de profissionais especializados.
Mística de abertura: símbolos e centralidade
A acolhida celebrativa foi marcada pela entrada simbólica de representantes dos oito subsetores da Diocese, cada qual trazendo um objeto representativo da inclusão: uma porta aberta, uma imagem de mãos estendidas, uma lupa, uma corda trançada, uma cadeira vazia, um espelho, uma imagem do ouvido e uma almofada tátil. Esses símbolos foram dispostos no centro da sala, compondo o “meio” ao qual alguns representantes foram convidados a se dirigir, gesto que expressou fisicamente o desejo de uma Igreja que não marginaliza, mas traz ao centro quem historicamente foi excluído.
Leitura Orante: a Palavra que convoca e cura
Inspirado em Marcos 3,1-6, o momento de Leitura Orante conduziu os participantes a entrarem na cena do homem da mão seca, sentindo-se dentro da sinagoga e escutando o chamado de Jesus: “Levanta-te e fica aqui no meio”. A experiência envolveu silêncio, interiorização, gestos simbólicos e um compromisso pessoal com a cura do olhar e das atitudes.
Apresentação do mapeamento: realidade que interpela
A apresentação dos dados do mapeamento diocesano revelou a amplitude e os desafios da inclusão nas comunidades. O levantamento, feito com mais de 125 catequistas, mostrou tanto iniciativas isoladas quanto lacunas profundas de formação, acessibilidade e protagonismo das pessoas com deficiência. Mais do que dados, foram apresentados rostos, histórias, tentativas e esperanças.
Temas formativos: olhares que constroem ou excluem
O momento formativo foi organizado em três blocos: o olhar da sociedade, o olhar de Jesus e o olhar da Igreja. Cada tema foi aprofundado por meio de provocações simbólicas, textos bíblicos e reflexões sobre como a inclusão depende de uma conversão do modo de ver. Um dos pontos mais fortes foi a pergunta feita por Jesus: “É permitido fazer o bem ou o mal? Salvar uma vida ou matar?”, questionamento que se torna hoje um exame de consciência eclesial diante das práticas excludentes.
Dinâmicas e vivências
O encontro contou com dinâmicas participativas e partilhas em grupos, que pela manhã refletiram sobre cenas bíblicas de encontro entre Jesus e pessoas em situação de vulnerabilidade. Cada grupo construiu uma síntese a partir do olhar de Jesus e apresentou no plenário. Uma vivência sensorial com os cinco sentidos aprofundou a experiência. À tarde, a Conversação Espiritual ajudou os participantes a discernirem juntos os apelos do Espírito, reconhecendo que a inclusão é uma resposta espiritual ao chamado de Jesus para trazer ao centro quem foi deixado à margem.
Organização dos Grupos de Trabalho
Na parte da tarde, foram apresentados e formados os primeiros Grupos de Trabalho (GTs) que darão continuidade à elaboração do plano completo do projeto. Os GTs inicialmente criados foram: GT 1 – Fundamentos e Espiritualidade da Inclusão, GT 2 – Material Didático e Recursos Acessíveis, GT 3 – Família e Comunidade Acolhedora, GT 4 – Formação de Catequistas para a Inclusão, GT 5 – Mapeamento Contínuo e Apoio às Paróquias e GT 6 – Articulação com Outras Pastorais e Projetos, entre outros que poderão surgir conforme as necessidades identificadas. Cada grupo deverá se reunir nos próximos meses para construir propostas específicas e estratégias operacionais.
A palestrante Ana Caroline Bonato da Cruz, do Instituto Ombro Amigo, destacou a importância de revisitar a história para compreender como a deficiência tem sido vista ao longo do tempo e como ainda reproduzimos preconceitos nas relações cotidianas. Segundo ela, o encontro ajudou a Igreja a se questionar: temos sido barreira ou ponte no caminho das pessoas com deficiência, especialmente no acesso aos sacramentos?
Já a catequista Ana Maria Cardoso, da Paróquia Nossa Senhora do Monte Claro, ressaltou que a inclusão começa com o cuidado: “essas famílias estão tão próximas e, ao mesmo tempo, tão desconhecidas por nós. Precisamos nos aproximar com compromisso e sensibilidade”.
Encerramento: um compromisso que se prolonga na ação
Com o coração tocado e as mãos simbolicamente estendidas, cada participante foi chamado a “permanecer no meio da comunidade”, assumindo a inclusão como parte essencial do ser Igreja. O gesto final a entrega de uma pequena toalha como símbolo da disposição de servir, lavar os pés e incluir selou o compromisso assumido por cada um e cada uma.
Agora, com a criação dos Grupos de Trabalho (GTs), inicia-se uma nova etapa: a organização e elaboração do plano completo do Projeto Catequese Inclusiva, a partir do trabalho articulado, da partilha de saberes e da corresponsabilidade.