07 MARÇO 2025

PE. DEOLINO PEDRO BALDISSERA, SDS


A alteridade. Trata-se do “outro”! Esse sujeito, “outro”, não é apenas alguém que se diferencia de mim, que tem sua vida e eu tenho a minha! Ele tem seu jeito de ser, seus dons diferentes, suas ambigüidades, seus gostos, suas cores preferidas... Esse outro diferente é meu conhecido e meu enigmático. Ele é alguém que se revela e se esconde que é ativo e passivo, que fala para dentro de mim e se cala fora de mim. Seu grito me emudece e, não entanto, me perturba. Digo: “não tem nada a ver comigo”, mas me sinto atingido. Descubro que esse outro me é necessário para que eu me reconheça como gente. O Seu “diferente” é o meu espelho onde me encontro e me vejo como numa foto que não pertence ao meu álbum. Com jeitos parecidos, mas não iguais, com língua semelhante e com sotaque desigual...

Falar do outro é falar dele e estar falando de mim próprio. Nas maneiras dele, que não combinam com o humano que ele é, se revelam também minhas próprias inquietudes e inseguranças. Em sua luta para se firmar diante dos outros mostra minhas ambições de querer ser melhor que ele. Aquilo que invejo nele reparo que está faltando em mim e não aceito. Nos seus pensamentos esclareço minhas idéias, mas nas opiniões que discordo dele, desejo de só eu ter razão. Nos seus sentimentos abalados descubro o jeito diferente de olhar para as mesmas coisas, com reações extrapoladas! Contudo em suas emoções compreendo-me um pouco melhor naquelas que também sinto e as experimento em outro lugar e em outro momento. Elas, às vezes, contêm o mesmo tremor, mas com intensidade que não é igual. Sua dor desperta meu choro e no desejo de encontrar consolo para ele, busco também alívio para os sofrimentos que naquele momento me afetam. No afeto que ele manifesta, desperta em mim o desejo de amar também e no afeto que ele precisa descubro minhas carências.

Esse outro enigmático, problemático, frequentemente me frustra nos meus sentimentos de onipotência e na ambição de ser melhor que ele. Na sua desarmonia interior, fico de cabelo em pé examinando inquieto se não há sinais dela também em mim. No seu desejo de paz, alimento a esperança de experimentar uma quietude que me faça bem. No lado sombrio de sua vida, temo o desconhecido que de vez enquanto me assusta e de mim se apodera. Na luz que se reflete nele, alimento meus dias com mais claridade. Na beleza de seu corpo, atiça-se em mim minha vaidade e no encanto de sua ternura, me sinto movido a amá-lo e tê-lo próximo. Na sua rispidez e agressividade me sinto rejeitado e com vontade de agredi-lo, e na culpa que isso provoca em mim, desperta o desejo de ser por ele perdoado. Quando o odeio, meu coração fica pequeno e constrangido por não saber livrar-me desse mal-estar torturador e por mais razões que busque para justificar meu estado de espírito, mais loucos ficam meus sentimentos e mais próximo de perder a razão me encontro.

Nesse outro enigmático e complexo, me encontro e me desencontro. Nele me vejo e não me reconheço, nele estou, mas não sou eu! Nesse outro que não posso viver sem ele, não sou com ele simbiose, nem metamorfose. Somos complementares, parecidos masculinos, parecidos femininos, nele me escondo e nele acho.

Essa alteridade, ilustre conhecida e desconhecida, parceira da vida, que a vida mesma me presenteou, me leva para diante do mesmo mistério da vida, que tanto para ela quanto para mim, só se desvela mais plenamente diante da outra Alteridade soberana e transcendente, que move o mundo dos crentes e dos descrentes.

Essa outra Alteridade se faz presente em mim e no outro meu parecido (no nós), mas nossas medidas não A comportam, contudo só ela nos preenche e revela quem realmente somos. Do outro que está perto de mim posso ir ao Outro que é único necessário e tudo para mim e para o outro meu companheiro de jornada!