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26 de janeiro  2023  - Por Dom Adelar Baruffi - Arcebispo de Cascavel (RS)

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“Perdoar” é livrar o outro, aquele que nos ofende, do peso de sua exclusão do meu mundo, das minhas relações com os irmãos e de Deus. Para receber o perdão de Deus as pessoas precisam demonstrar arrependimento e mudança de rumo. O perdão sempre nos aproxima de Deus e nos faz mais próximos dos irmãos e irmãs.

Perdoar não é esquecer. É aceitar de coração que um perdão se dê, sem exigir nada em troca, sem um benefício concedido em função do arrependimento, da reparação, ou de qualquer outra forma de benfeitoria. O perdão precisa ser manifestado, pedido ou confessado, quando houver esta possibilidade. Está diretamente ligado a Deus, que na sua bondade quer o bem de todos. O sentimento de desapego nos faz ter relações de perdão e misericórdia e, por isso, de acolhida.

A pessoa que cultiva a compaixão e a misericórdia, sempre terá a alegria no rosto presente e, um dia, o outro terá a mesma alegria de quem tomou a iniciativa. Precisamos saber a distância entre o perdão e a confissão da falta. Uma falta, por exemplo, no tempo da infância ou adolescência, que costumam marcar a vida, não são tão fáceis de falar. Arrepender-se, reconhecer-se culpado ou não é um sinal de manifestação de uma doença, é um sinal de maturidade. É sanidade consigo mesmo e com os demais. Porém, o falar dela não sempre é tão fácil! O caminho inicia quando começamos a nos dar conta de que há algo que nos incomoda, que não está bem. Depois, vem os passos seguintes.

Anselm Grün (2005), grande escritor cristão e católico, nos apresenta quatro pontos importantes neste momento. Se você é um destes que não consegue perdoar, tenta, ao menos, estes quatro pontos.

O primeiro passo consiste em nós permitirmos novamente viver e sentir o que nos causou a dor. Muitas vezes não percebemos o que nos aconteceu. Mas no momento seguinte estamos tão envolvidos com as atividades e reprimimos a palavra que nos feriu.

O segundo passo é aceitar o aborrecimento e a raiva que sentimos, sempre que estivermos diante daquele que nos magoou. “O perdão vem sempre depois da raiva” (A. Grün). É preciso tirar de dentro de nós aquele que nos feriu.

O terceiro passo consiste em avaliar objetivamente aquilo que tanto nos feriu, a partir da distância que obtivemos com nossa raiva. Talvez, seja a oportunidade de ver os porquês da manifestação de raiva e nos perguntarmos sobre nossa história. Enquanto não tomar contato com a própria ira, não poderá ver a lesão e libertar-se dela.

O quarto passo é a libertação do domínio do outro. Enquanto ainda não o tivermos perdoado, ficaremos dando ao outro poder e força, assim como o outro também conosco. Isso não é humano! O outro sempre terá algum poder sobre nós. Quando nós, por meio do perdão, estaremos nos libertando do domínio do outro, de sua influência nociva, estaremos nos fazendo um grande bem.

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