30 SET 2021 - Diác. Márcio José Pelinski - Há 50 anos a Igreja Católica no Brasil (CNBB) comemora setembro como Mês da Bíblia, em celebração da passagem do patrono das Sagradas Escrituras, São Jerônimo (30/09).

 

Este mês temático tem como objetivo pastoral a propagação e o aprofundamento dos textos bíblicos com a escolha de um livro por ano para estudo, de forma alternada entre os livros do Antigo e do Novo Testamentos. Para este ano de 2021 o livro escolhido foi o texto neotestamentário da Carta aos Gálatas.

A Carta aos Gálatas foi escrita pelo apóstolo Paulo entre os anos 53-57 d.C. com o intuito de resolver algumas dificuldades de uma rede de comunidades da Galácia na Ásia Menor (hoje Ancara – Turquia), sobretudo, os problemas criados por um grupo de cristãos judaizantes que defendiam um cristianismo que deveria passar obrigatoriamente pelas práticas e doutrinas judaicas (Gl 3,1; 6,17).

As comunidades destinatárias da mensagem eram de realidade rural. Compostas por peregrinos e viajantes provindos de várias regiões, as comunidades possuíam membros de diversas culturas, diferentes línguas e experiências religiosas. Por causa de regras políticas do domínio Romano, os indivíduos da Galácia não tinham direito a aquisição de propriedades, entre outras limitações impostas pelo império. Nesta região ocorriam também muitas negociações de compra e venda de escravos.

As características e problemas destas comunidades darão a tônica da abordagem da carta paulina, sobretudo no antagonismo entre os temas da liberdade e da escravidão.

No início da carta, Paulo faz uma saudação típica, apresenta-se como apóstolo (Gl 1,1-5), contrapondo-se aos questionamentos de alguns que não o reconheciam com membro original do grupo dos doze apóstolos, discorre sobre o Evangelho verdadeiro pregado (Gl 1,6-9) e depois fala de sua experiência e itinerário vocacional (Gl 1,11-2,14). Na sequência da epístola, o tema da liberdade passa pela forma de sua atuação e dos seguidores do Evangelho (Gl 2,4) que ocorre, de forma livre pela fé (Gl 2,16) e não pela escravidão da Lei judaica (Gl 2,15.21). Diante do problema com o grupo dos judaizantes, no capítulo três, Paulo usa a promessa feita à Abraão da descendência entre as nações (Gl 3,7), plenificada em Cristo (Gl 3,14) para incluir os Gálatas como herdeiros da Aliança pela fé (Gl 3,9), recebendo a filiação divina no batismo (Gn 3,26).

A lei foi explicada por Paulo como um processo pedagógico até que a fé fosse revelada em Cristo (Gl 3,23), e exorta os Gálatas de que, sendo livres, não se deixem prender por novos jugos de escravidão (Gl 5,1) impostos por aqueles que não acreditam na cruz de Jesus (Gl 2,21), que deve ser motivo da glória dos discípulos (Gl 6,14). O Apóstolo encerra a carta desejando a presença da “graça de Cristo com o espírito dos irmãos (Gl 6,18).

Em um contexto de pessoas escravizadas ou limitadas por imposições político-sociais, Paulo apresenta a mensagem cristã como fonte de liberdade para os Gálatas. Diante também da diversidade dos membros das comunidades dos gálatas, Paulo apresenta a fé em Cristo com fator de unidade: “Pois todos vocês que foram batizados em Cristo se revestiram de Cristo. Não há mais judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,27-28).

O contexto problemático destas comunidades e a resposta de Paulo ilumina também nossa situação atual. Em um ambiente de tantas diversidades, devem ser considerados não os pontos de divergência ou de separação, mas os pontos que convergem e unem. Aprendemos também com a carta aos Gálatas que a verdadeira liberdade consiste na compreensão da dignidade humana que brota da salvação realizado por Jesus, que gratuitamente entregou-se e rompeu as divisões que hierarquizam pessoas. Todo aquele que compreende e experimenta esta graça do Senhor deve ser capaz de viver em Cristo a plena liberdade (Gl 2,20).


Diác. Márcio José Pelinski - Bacharel, Especialista e Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professor da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional (UNINTER). Diácono Permanente na Diocese de São José dos Pinhais (PR).

Foto: Diác. Márcio José Pelinski