06 JULHO 2021 - ANO DE SÃO JOSÉ - Geração após geração a expectativa de vida das pessoas está aumentando. 

 

É necessário, então, reafirmarmos o real sentido da velhice: ela não é sinônimo de enfermidade nem de finitude, mas o espaço autêntico da memória e da tradição de um povo! Vidas cada vez mais longas exigem de nós atenção e cuidado: como envelhecer dignamente num contexto cultural e social que se transforma rápida e profundamente? Uma possível resposta a essa pergunta está na valorização e no cultivo da sabedoria, tão esquecida em nossos tempos, que nada mais é do que o aprendizado que adquirimos com a experiência, com a vida concreta, para além dos conhecimentos técnicos sobre as coisas. Não é por acaso que a Bíblia designa “anciãos” aqueles que, na velhice, vivem pela sabedoria.

No Ano dedicado a São José esta reflexão é certamente oportuna. São José, pai adotivo de Jesus, qualificado como homem justo, viveu da sabedoria, ou seja, do cumprimento cotidiano da vontade de Deus. Quem vive da sabedoria é colaborador de Deus em seu projeto de salvação: assim foi São José. Historicamente, ele nos é apresentado com uma aparência envelhecida justamente para sinalizar o valor da sabedoria e sua função de guardião da Sagrada Família. Sua aparente senilidade não é sinal de fraqueza, mas de canalização de toda a sua energia vital em prol da realização de sua missão. A sabedoria do “velho” José se traduziu em castidade, justiça e fidelidade.

É na velhice que se descobre o real significado do temor de Deus, que não indica medo do Senhor, mas a clareza absoluta de que não há outro caminho senão o de transbordar o amor que recebemos de Deus. Assim fez o “velho” José: gastou a sua vida para responder o chamado que recebeu de Deus e o fez discretamente, de modo quase anônimo. Quantos idosos de ontem e de hoje são assim como São José, ainda que não sejam oficialmente venerados na Igreja? Não se pode afirmar exatamente a idade com a qual José morreu. Também não é possível afirmar que morreu “velho” de acordo com os critérios de hoje. A expectativa de vida em sua época era diferente da nossa. Porém, uma coisa é certa: a “velhice” de José expressa em nossas imagens e ícones aponta para o vigor de uma vida regida pela sabedoria cultivada ao longo de sua existência. Ah, como nossas famílias seriam mais felizes se descobrissem o valor da sabedoria que reside na velhice! Como todos seríamos mais felizes se aprendêssemos dos idosos o olhar atento aos sinais da existência, o zelo pela vontade de Deus e o amparo e sustento da fé!

O idoso não pode alterar o que passou, mas pode modificar seu modo de encarar o que passou. Pode ocorrer que pensemos da seguinte maneira: a velhice é tempo de “terminar” a vida. Pelo contrário: a velhice é tempo de “recomeçar” sempre, porque é neste tempo que se experimenta a “profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus” (Rm 11,33). Pessoas e nações que violam os direitos dos idosos pisoteiam a sabedoria! Como Igreja, todos somos chamados a viver da sabedoria, porque a Sabedoria – com “S” maiúsculo – é Cristo! Assim, a Pastoral da Pessoa Idosa possui um papel importante no processo de evangelização e promoção humana dos idosos. O trabalho desta Pastoral está pautado no olhar fraterno, no cuidado, na animação e na proteção dos idosos segundo o Evangelho de Cristo. É no idoso mais frágil e vulnerável, pessoal e socialmente falando, que o Senhor – fonte da sabedoria – se revela. A Pastoral da Pessoa Idosa nos recorda que evangelizar e cuidar dos idosos é fazer a experiência de tocar a sabedoria de Deus que nos impele para a missão de promover o Reino de Deus.

Somos devedores de nossos idosos e a eles honramos, porque em algum momento da vida, mesmo sem saber, recebemos deles a fé pelo testemunho da sabedoria!

Dom Celso Antônio Marchiori
com a colaboração da Coordenação diocesana da Pastoral da Pessoa Idosa