14 DEZ 2018 - Artigo - Confira neste artigo de Dom Jerônimo Pereira da Silva, Monge do Mosteiro de São Bento de Olinda, a história, celebração e espiritualidade do Tempo do Advento. 

As verdadeiras origens do Advento são incertas e as notícias que nos chegaram são exíguas. É necessário distinguir elementos relativos à práticas ascéticas de outros de caráter propriamente litúrgico: um Advento como tempo de preparação ao Natal (Advento histórico) e um Advento que celebra a vinda gloriosa de Cristo (Advento escatológico). O Advento é um tempo litúrgico típico do Ocidente. O Oriente tem somente uma breve preparação de poucos dias para o Natal.

A história do Advento

Temos notícias do Advento desde o séc. IV, e este tempo se caracteriza tanto em sentido escatológico quanto como preparação ao Natal. Sobre o significado originário do Advento muito se tem discutido, preferindo alguns optar pela tese do Advento Natalício, outros pela tese do Advento escatológico. Certo é que o Advento romano surge somente na segunda metade do VI século, provavelmente importado da Gália, passando em primeiro lugar por Ravena. A reforma litúrgica que brotou do concílio Vaticano II quis, intencionalmente, conservar ambas características de preparação para o Natal e de espera da segunda vinda de Cristo.

Nas obras cristãs dos primeiros séculos, especialmente na Vulgata, Adventus torna-se o termo clássico empregado para designar a vinda de Cristo entre os homens: sua vinda na carne, inaugurando os tempos messiânicos, e sua vinda gloriosa, que coroará a obra redentora no fim do mundo. Adventus, Natale, Epiphania exprimem a mesma realidade fundamental.

A celebração do Advento

O Tempo do Advento começa com as I Vésperas do domingo que sucedem ou antecedem imediatamente ao dia 30 de novembro (festa de Santo André) ou ao mais próximo desta data, e termina com a Noa antes das I Vésperas do Natal. É constituído de quatro semanas que por sua vez se divide em duas etapas: a primeira vai do primeiro domingo até o dia 16 de dezembro e faz referência especial à vinda escatológica do Salvador, e a segunda, de 17 a 24 de dezembro, aponta a sua vinda histórica, conforme atestam os prefácios:

O I prefácio sublinha bem essas duas etapas:

Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos.

O prefácio II, previsto para os dias entre 17 e 24 de dezembro, assim se exprime: Predito por todos os profetas, esperado com amor de mãe pela virgem Maria, Jesus foi anunciado e mostrado presente no mundo por são João Batista. O próprio Senhor nos dá a alegria de entrarmos agora no mistério do seu Natal, para que sua chegada nos encontre vigilantes na oração e celebrando os seus louvores.

A espiritualidade do Advento

A comunidade cristã, com a liturgia do Advento, é chamada a viver no cotidiano algumas atitudes evangélicas essenciais: a espera vigilante e jubilosa, a esperança, a conversão. A atitude da espera caracteriza a Igreja e o cristão porque o Deus da revelação é o Deus da promessa que em Cristo manifestou toda a sua fidelidade ao homem (cf. 2Cor 1,20).

Durante o Advento a Igreja vive a espera de Israel em níveis de realidade e manifestação definitiva desta realidade, que é Cristo. Agora vemos como por um espelho, confusamente, mas virá o dia em que veremos face a face (1Cor 13,12). A Igreja vive esta espera na vigilância e na alegria. Por isso reza: «Maranatha: “Amém. Vinde, Senhor Jesus!» (Ap 22,17-20).

O Advento é a celebração do «Deus da esperança» (Rm 15,13) e os cristãos vivem esse tempo na virtude da alegre esperança (cf. Rm 8,24-25). O canto que caracteriza o Advento, desde o primeiro domingo, é o do salmo 25: A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos, pois não será desiludido quem espera em vós.

O Deus que entra na história põe em causa o homem, questiona-o. A vinda de Deus em Cristo requer contínua conversão: a novidade do Evangelho é luz que exige despertar pronto e decidido do sono (cf. Rm 13,11-14).

O tempo do Advento, sobretudo através da pregação de João Batista e dos profetas veterotestamentários, especialmente Isaias, é convite à conversão para preparar os caminhos do Senhor e acolher, à imagem da Virgem Maria, o Senhor que vem. O Advento, enfim, educa para viver a atitude dos «pobres de Javé», mansos, humildes, disponíveis e que Jesus proclamou bem-aventurados (cf. Mt 5,3-12).

Dom Jerônimo Pereira Silva, OSB
Monge do Mosteiro de São Bento de Olinda
Doutor em Sagrada Liturgia
Membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard.

 

Fonte: www.centrodeliturgia.com.br